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AssertivaMente

A assertividade aprende-se? E o que muda? Aqui vou viver a afirmação pessoal, um dia de cada vez.

A assertividade aprende-se? E o que muda? Aqui vou viver a afirmação pessoal, um dia de cada vez.

AssertivaMente

08
Jun20

Verdade ou Omissão?

Vera Tecla

1) Um médico amigo recomendou-me muito uma terapeuta. Teceu-lhe imensos elogios: "a melhor"!

De facto, ela está convencida que é a melhor. Mas talvez por isso - ou apesar disso - a terapia não correu bem ou nem foi eficaz. 

Muitos meses e euros depois, desisto. E passo a outro.

O que faria o leitor?

Resposta A (verdade): Avisaria o médico amigo de que "se calhar" essa terapeuta não será propriamente a melhor.

Resposta B (omissão): Não diria nada ao médico, para preservar a vossa amizade intocada.

2) A sua cara-metade oferece-lhe um presente caro que você não quer.  O que faz?

3) O merceeiro da esquina, de quem você muito gosta, tem fruta sem sabor e vende-lhe queijo que lhe dá diarreia. Você vai dizer-lhe?

Bom...eu sou das que vai dizer a verdade.

Qual é a consequência?

Eu fico tranquila e satisteita por estar a passar uma mensagem que penso que é muito util para o meu interlocutor.

O meu interlocutor fica chateado (ou magoado) e/ou não acha nada útil a minha contribuição.

Eu passo a persona non-grata.

A minha contribuição pode vir a revelar-se útil para ele.

Mas para mim, é que não há ganho nenhum.

Se eu ficasse calada, pessoalmente, ganharia mais do que falando.

E não tem a ver com o tom.

Seja qual for o tom, no fim das contas, as pessoas não aceitam bem "criticas".

Mesmo as que dizem que aceitam.

Por isso, a verdade é só para quem a pedir. De joelhos.

E ainda assim, é bom que seja a troco de alguma coisa.

Porque não vai ser agradecida.

26
Nov19

Mãe, conseguimos comunicar!!!

Vera Tecla

Ontem a minha mãe ligou para saber como estávamos enquanto...mastigava qualquer coisa.

E esse foi o gatilho.

Percebi que ouvi-la falar a petiscar ao mesmo tempo, me causava desconforto.

Estava a irritar-me.

Conseguia imagina-la inocentemente a falar comigo ao telefone sem se aperceber de nada.

Perguntei-lhe se estava a comer.

Sentiu-se apanhada:   "Ah, é só um comprimido..."

- "É que não estou a perceber nada do que está a dizer Mãe!", e pronto...estraguei o clima.

Fi-la sentir-se mal. E eu também não fiquei muito feliz.

Entrou nos automatismos dela e eu nos meus e pronto..."então beijinhos e até amanhã".

Senti-me frustrada. 

A seguir, fiz o que fazemos para resolver situações: fui ao meu banco de memórias e experiências, a ver o que encontrava para lá.

Lembrei-me como foi estar na pele dela: eu ao telemóvel com o meu namorado, há muitos anos atrás, enquanto lhe contava as últimas novidades. E ele muito delicada e subtilmente adivinhava-me a lanchar. O que me deixava surpreendida..."como sabias?" 

Agora que penso nisso, entendo a mistura: com comida queremos boa companhia

Bolas! Eu não podia deixar aquilo assim entre mim e a minha mãe.

De certa forma, eu ainda só aturo isto tudo por causa dela. Não fosse ela, e...

Ainda por cima, há pouco tempo, descobri: que ouvir a voz da mãe faz bem aos dói-dóis dos filhos pequenos. Tem o mesmo efeito que um abraço.

E eu, uma filha crescida, quando tenho grandes dói-dóis também me torno pequena outra vez. 

Quero que a minha relação com a minha mãe funcione. Mas não quero que me telefone enquanto come. Nem quero magoa-la.

E agora?

Enviei mensagem: "Mãe, qdo já não estiver a comer e puder ligue-me. Bjs"

Ligou-me com paciência e coração de mãe. Tentou desculpar-me com o facto de eu andar muito focada nas minhas preocupações. Mas que ela já nem estava a pensar nisso... Hum...

E foi então que eu ataquei as bolachas, para lhe fazer uma demonstração: "crunch, crunch...Entende mae?... crunch, crunch...o que eu queria...crunch, crunch...dizer...crunch, crunch..." e ela desatou a rir às gargalhadas.

Rimos as duas! 

E como os filhos existem para nos fazerem paga-las todas...Hoje a minha filha diz-me depois de lavarmos os dentes juntas:

- "Mãe, sabes porque é que eu viro a cara  e tapo os olhos quando tu bochechas? Porque eu não gosto de ver aquela água branca a sair da tua boca... ..."

Au!  Doeu! 

- "Ah...  Ainda bem que disseste à mãe! Assim, para a próxima a mãe já não faz." 

 Upss! 

Aguenta coração!

 

~o~~o~~o~~

Leituras:  

SAPO | Pesquisa diz que Voz de mãe ao telefone conforta tanto quanto abraço

, de 25 mai 2010.

Sciencedaily | Mom's voice activates many different regions in children's brains, study shows

May 16, 2016 - Stanford University Medical Center

24
Nov19

Gritar

Vera Tecla

O meu Mentor  disse-me que gritar descredibiliza a mensagem.

Que se não queremos que nos voltem a contatar no nosso aniversário e não for suficiente enviar um sms a pedi-lo (e nos estragarem mais um aniversário com um  telefonema non-grato) parece que...gritar com o outro não serve.

Que o que serve é dizer com voz calma. E repetir as vezes que for preciso clara e lentamente.

Se já enviei uma mensagem e a pessoa insiste, e se quando insiste te dá a noção de que não te está a levar lá muito a sério (“ah, pois está bem...") pode acontecer-te passares-te da cabeça e desatares aos berros.

E no andamento, explicares-lhe em Lá Maior que não querias que te telefonasse porque não te queres lembrar dela no teu dia.

E que não se pode impor dessa maneira e desrespeitar-te, desrespeitando o teu pedido.

O meu Mentor disse que as pessoas acham que como estás a gritar, estás descontrolad@ e desvalorizam.  

Pois eu sempre levei a sério as pessoas. Gritem ou não.

Sempre dei mais valor ao conteúdo do que à forma.

Pelos vistos há muitas pessoas que simplesmente desvalorizam o que tu dizes. Só pela forma como o dizes.

E se calhar, esperam que tu faças o mesmo!?! Que desvalorizes o que dizem!?!

Azar o teu se não fazes. E levas tudo a peito. 

Não percebeste, pois não?

A isto chamam “comunicar”... 

15
Nov19

Agressão desviada...

Vera Tecla

Agressão desviada é estar zangado com A e agredir B.

B recebe uma mensagem que não lhe é dirigida, e por conseguinte não a consegue descodificar.  

Se dá consigo sem agredir B, os meus parabéns!!!   

Efectivamente, a “zanga” tem que ser resolvida com A

Zangar-me com B não resolve nada.

Só agrava.

E agora que vos escrevo, dou-me conta que não é só a zanga que desviamos. 

Também desviamos o amor.

Ser assertivo é escolher zangar-me com A. Ou não.

Mas nunca com B.

Porque é que isto pode ser difícil? 

Por andarmos desavisados.

E por não termos noção de como as emoções fortes extravasam fronteiras.

E contaminam os nossos pensamentos, sentimentos e açōes.

Separemos as águas.  

13
Nov19

O Natal é um bom desafio

Vera Tecla

O Natal é um bom teste à nossa capacidade de afirmação pessoal. 

E à nossa capacidade para realmente ouvir o outro e para realmente respeita-lo.

Eu deixei de celebrar o Natal em 2017.

Mas não foi fácil. Nem para mim assumi-lo, nem para os outros aceita-lo.

O que me traz aqui hoje é propor-vos o desafio de verificarem até que ponto vocês oferecem coisas de que vocês gostam.

Ou se têm o cuidado de oferecer coisas de que os outros realmente gostam.

Às vezes, cheios de boas intenções oferecemos o que achamos que os outros precisam.

Mas isso não é ouvir. Isso é um jogo de advinhação. 

O meu desafio para vós é mais fácil: é mesmo só ouvir. Estarem atentos. Ouvirem o que os outros estão a dizer que querem.

Mesmo que não case com o que vocês acham que eles querem.

Ouvir é fácil. E difícil. Requer atenção.

De caminho, oiçam-se a vocês próprios e vejam lá o que realmente querem deste Natal.

~o~~o~~o~

29
Out19

Para, escuta, olha...e cala-te um bocadinho!

Vera Tecla

Se quisermos mesmo, mas MESMO ...comunicar, em dado momento teremos de suspender a entrega de informação e...abrir os canais de receção.

Em miúda, eu era uma ouvinte atenta.

Era fácil! Era das coisas que me dava mais prazer.

Adorava ouvir o meu Avô, por exemplo. Ele falava sobre as suas histórias de vida e eu bebia as suas palavras.

Naquele caso, NÃO pretendia ser entretenimento. Falar por falar. Não.

Havia sempre uma lição. Talvez isso me tenha condicionado a precisar de histórias com conteúdo. Mas isso é outra história.

Nas aulas eu também era muito atenta. De tal forma, que me recordo a primeira vez em que deixei de conseguir seguir o que a professora estava a dizer. Estranhei isso em mim.

Era, na realidade, um sinal de desconcentração, fruto de uma grande mudança.

Tinha 13 anos, mudado de escola a meio do ano letivo. Começado a viver do outro lado do mundo, numa cultura estranha, num clima estranhíssimo e a “navegar” longe de terra conhecida. 

Tirando esse episódio, nunca fui ausente.

Hoje reconheço que ouvia com todo o meu corpo. Com todo o meu ser. Sem escudos. 

Na altura era-me fácil, mas hoje...

Hoje é um desafio.

O pensamento está a mil. Congestionado com excesso de informação e preocupações simultâneas.

Assim que...não dá para pedir com jeitinho. É:

Para!

Escuta!

Olha para o teu interlocutor!

E cala-te um bocadinho...sim?

(põe um sorriso nessa carinha “larocas”, se for o caso

Guarda lá a cara de múmia para o halloween, “faxavor”)

Voltaremos a falar...mais logo.

Agora...chiu! Deixa-me ouvir!

23
Out19

Bullying - Fazer alguém triste

não tem piada nenhuma!

Vera Tecla

Ano (letivo) novo. Vidas novas.

Umas vidas entram pela primeira vez no mercado de trabalho, outras darão agora os primeiros passos no jardim de infancia. 

Daí que me tenha chegado o seguinte pedido: 

Bullying.jpeg

"Ensine a seu filho que a dor do outro não é brincadeira. Fazer alguém triste não é engraçado." 

Num flash lembro-me de todas as vezes que fui vitima de bullying no trabalho por ser diferente ou não alinhar com a carneirada.

Mas também me lembro com tristeza, de que (para me defender ou impor) também eu, involuntariamente, feri pessoas pela forma como me expressei.

Na relação com as crianças, se ainda tivessemos dúvidas, quando temos filhos, ficamos esclarecidos que usar da força é um abuso.

Basta pensar na diferença de tamanho, de potência e de altura, para, num momento de lucidez, jurarmos nunca mais lhes tocarmos.

É uma medição de forças desigual. É como sermos intimidados por gigantes, com mais um metro do que nós, com força para levantar um frigorífico e decibeis na voz suficientes para nos atordoar o tímpano.

Xixi...? Não... Medo!

Neste momento, o que vos peço é:

falem do assunto Bullying.

Com os outros. Mas também convosco.

Vejam como se podem defender.

Re-vejam como podem não atacar.

O comportamento manipulador e o passivo-agressivo resultam em bullying. Atenção a isso! 

Não podemos controlar tudo. Mas podemos controlar o que dizemos e como reagimos.

E isso já é muito!  

 

p.s. - Pedir desculpa (de coração) também está sempre ao nosso alcance. 

Leituras sugeridas:

https://www.apavparajovens.pt/pt

Pumpkin.pt c/ Oficina Psicologia | Como lidar com o bullying no pré-escolar?

 

MAGG | O bullying está a tomar conta da vida do meu filho (por Ricardo Martins Pereira)

Visao | O tragico caso de Jamel Myles: Assumiu-se gay aos 9 anos, sofreu bullying e suicidou-se

 

https://dicionario.priberam.org/bullying

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bullying

 

13
Out18

Um brinde à nossa natureza

Vera Tecla

O tema é delicado. É a minha segunda tentativa.

Há dois meses abortei a missão a meio.

O timming não foi o melhor...final de julho de um ano estafante.

Um calor abrasador capaz de vaporizar o único pingo de clareza mental que me restava.

Um cocktail hormonal pre-ciclo, a fazer de mim esponja de toda a de humidade que se aproximasse.

E eles queriam que eu bebesse 4 litros nessa noite!?!

Brincalhões!

Depois de dois litros e quase a vomitar, é que caí em mim.

Não sou eu que estou mal, bolas!

São eles!

Na altura, até fiz um esquema, num papel, com as horas das tomas, porque as instruções eram dificeis de descortinar.

Em julho, como ficou marcado para as 4 da tarde, eu teria que fazer 6 horas de jejum total antes da anestesia. 

Telefonam-nos sempre a perguntar se temos dúvidas. Dúvidas eu não tinha. Mas acabou por vir à conversa: nada de beber água a partir das 10 da manhã.

Só que estavamos no pino do verão!

Qual é o sentido? Qual é a taxa de sucesso? Digam-me vocês?

Depois de remarcar sucessivamente, vai ser já amanhã.

Só porque...ainda não desisti, mas já estive para o fazer. 

É que, agora, com tantas horas a tomar laxantes, tive mais do que tempo para ir reler as instruções e dei-me conta que lá diz:

         "Dissolva o conteúdo da saqueta A com o conteúdo da saqueta B em 1L de água e beba em 45 minutos."       

Note-se que nenhuma das saquetas contém chocolate, pipocas, batatas fritas, ou mesmo água que seja. Mas uma mistura indigna de existir. 

E foi aqui que eu percebi uma série de coisas (a que vos vou poupar) e que me fizeram considerar suspender novamente o exame esta noite.

Passaram-me varias coisas pela mente em segundos. Algumas até colidiram e capotaram.

1) A conversa da Helena da primeira vez de desisti: "Ó pá, ias lá na mesma. Eu também não consegui fazer a preparação como eles mandaram e fui."

2) A mania que tenho de seguir as regras e de me tramar por causa disso.

3) A teoria da conspiração de ve-los a escreverem propositadamente regras mais estritas do que o necessário para garantirem que conseguem o material limpo de que precisam.

4) E a luta que eu estaria disposta a fazer para conseguir que a direção do hospital corrijisse as instruções e as re-escrevesse dirigida a seres humanos, terrestres e sérios cumpridores de regras em geral e de instruções de saude em particular.

Há momentos em que é claro para mim que a assertividade é contra a minha natureza.

Foi quando eu lhe disse: "Acho que vou escrever à direção do Hospital a dizer que lhes dou 50 euros se me provarem que é possível beber 1 litro desta coisa em 45 min."

Não sei se chore, se ria, mas ele (que me conhece bem) fez um esgar do tipo "lá está ela" e disse, enquanto continuava a teclar no telemóvel: - "Não faças isso."

E depois acrescentou: "Eu bebo!" 

- "Tu bebes?" respondi incredula enquanto pensava com o meu botão descasado "francamente, o que este tipo está disposto a fazer para me proteger de mim própria. Caramba! Devo ser mesmo um caso perdido." 

- "Mas não é possível. Isto é horrivel", insisti.

- "Eu bebo. Deixa cá provar", bebeu e não vacilou, "bebo isso em 15 minutos."

- "Em 15 minutos?", respondi, "dou-te 200 euros!"

A verdade é que...tivesse eu menos 15 anos e ia à luta.

Só que perdia...

Continuo a ter vontade de dar-me ao trabalho (sim, porque dá trabalho) e escrever a dizer que não é humano beber aquilo em 45 minutos.

Muito menos duas vezes na mesma noite.

Regado com outros 2 litros de água, chá, sumo sem polpa ou refrigerante sem gás.

Não é humano.

A esta hora da noite, e com as litradas que aqui já vão, pergunto-me se eles, os gastroenterologistas, têm de experienciar um exame destes durante a especialidade.

Será que têm noção do que estão a pedir?

Hum...duvido. Seria estranho, ser examinado por um colega de profissão. Estranhissimo.

Estou a falar a sério! Se fosse uma colega ainda vá. ...Hum...estranho. Muito estranho.

Bom, voltando à assertividade...escrever-vos acalmou-me, que é o que se recomenda nestas situações.

Se vocês não estivessem aí e eu tivesse menos 15 anos, a esta hora já estava a escrever para o Ministério da Saúde. E já teria falado com todos os médicos amigos da familia para saber até que ponto isto é aceitável, etc...

O que faz a ingenuidade, santo deus!

Nestas situações que nos revoltam e nos mexem com as entranhas, é suposto não agir. Senão sai m€rd@!

É comum quando se reage a quente ser-se sarcastico, precipitado, injusto, e até mesmo agredir fisicamente.

O que é desejável é que tomemos consciencia disso e que aproveitemos essa energia a nosso favor.

Essa energia é emoção. E-moção que nos faz disparar para a ação. O que é bom, mas pode ser mau.

Sugestões que se costumam dar nestes casos são:

- Escreva tudo mas não envie. Guarde para o dia seguinte. Nesse momento, já a emoção / energia terá tido tempo de se dissipar.

A emoção tolda a razão. E fica uma grande confusão. A razão será mais capaz de distinguir o que é razoável ou não.

Sem toda aquela emoção, já o caso tomou as devidas proporções. Isto é, não ficou amplificado pela emoção.

E, muito provavelmente, digo-vos eu, que o tal caso, nessa altura já foi ultrapassado por alguma coisa mais urgente da vossa vida.

E como não dá para tudo... Escolhamos as nossas guerras.

Momento de lucidez antes de terminar...Façamos a lista do que aprendi nisto das colonoscopias. Pode vir a ser-vos útil:

         - Evitar a fase da retenção de liquidos (quiça agravada por medicação que estejam a fazer) e marcar o exame para a fase hormonal propicia: isto é, logo na segunda semana do ciclo, em que tudo em nós flui como devia.

         - Com anestesia (claro!) e logo pela manhã. Nada de prolongar sofrimento (jejum total) desnecessário pela tarde afora.

         - Fazer dieta preparatória sem stress...Eu preferi começar a dieta no fim-de-semana. Para mim, trabalhar e não poder comer é stressante e para esquecer.

         - Para atingir a perfeição nada como o metodo da tentativa-erro: ouve o teu corpo, se ele te está a dizer que não é agora, é porque se calhar até tem razão.

Por tudo isto, só amanhã, depois de a emoção passar, é que estarei em condições de encontrar a resposta mais assertiva neste caso.

Se calhar 50 euros é pouco. Vou re-pensar.

Obrigada pela companhia.

Fez toda a diferença.

~o~~o~~o~

30
Set18

Simpatia

Vera Tecla

Sabes aquela coisa de estares com alguém que de repente está frágil e te apercebes que está prestes a ir às lágrimas?

E tu queres amparar a coisa. Tu estás bem. Estás forte. E queres confortar a pessoa e emprestar o teu ombro.

A pessoa ainda está a tirar os óculos e a empurrar as lágrimas com o dedo para ver se não saiem. A encher o peito de ar e a suster a respiração para conter a onda. E...

Tu esfregas-lhe as costas, como se de frio se tratasse. Murmuras um preocupado "...então?". E esperas.

Mas o "frio" não está a passar. E o tempo também parece que não.

Ouves num soluço "Ai, Vera, não sejas simpatica comigo agora, senão eu....".

E nisto, já tu estás a abraçar a pessoa amiga, a ajudá-la a tapar a face lavada em lágrimas e a dizer: "Faz bem chorar. Às vezes é mesmo preciso chorar."

 

E depois há uma linda e fresca manhã, em que alguém te falha num voto de confiança e tu vens revoltada, de nó na garganta e voz embargada. E vais a caminhar rua afora com as lágrimas escondidas atrás dos óculos escuros.

Estás quase a chegar a trabalho e dizes-te "Agora não posso. Agora não dá jeito estar a chorar. Tenho que parar."

Pensas "é melhor parar no café. Mas... espero que o sr. Henrique não seja simpático, senão eu desmancho-me. E não posso."

Pedes "um café, por favor". Ou por outra: tentas...por que a voz não sai.

Sabes que não o podes encarar. A simpatia dele, neste momento, é fatal.

Desvias o olhar, já raso de água, envergonhada pelo nó que te atrapalha a garganta.

Aproximas-te um pouco mais e tentas novamente.

Sai um som sumido, com umas pausas para contenção, e uma esperança que ele leia o teu pedido. E se vá embora buscá-lo.

Ele repete: "um café". E tu confirmas acenando com a cabeça, sem olhá-lo.

E já nem te abalanças a pedir o copo de água. Pode ser que ele se lembre.

Afastas-te, para aguardar na mesa de pé alto e finalmente respirar.

Agora sim: não dá para evitar totalmente, mas...assim resguardada já dá para amparar a coisa com uns lenços de papel, umas assoadelas e umas respirações lentas a encher a barriga como um balão.

Sabes que aqui és benquista. Começas a relaxar.

O nó desfez-se.

Muito bom! Conseguiste!

Já consegues sorrir e pensar na piada que lhe vais dizer sobre a tua choradeira quando estiveres a pagar-lhe o café.

O sr. Henrique até é da tua idade. Mas tu tratá-lo por sr. Henrique.

Ele é muito simpático e bem-disposto com toda a gente. Não faz distinção. E tu gostas disso: Sejam novos ou velhos, feios ou bonitos, homens ou mulheres. É amigo.

E isto fez-me pensar, na cena com a minha amiga.

Ela disse-me "não".

"Não sejas simpática comigo agora."

E o que é que isto tem a ver com a assertividade?

Bom, ela estava frágil. Mas tinha uma vontade. 

E eu sobrepus a minha vontade à dela.

E não a respeitei.

Deveria ter guardado a minha simpatia para quando ela, de facto, a quisesse e a pedisse.

É o que farei de uma próxima vez.

Obrigada sr. Henrique! 

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