O tema é delicado. É a minha segunda tentativa.
Há dois meses abortei a missão a meio.
O timming não foi o melhor...final de julho de um ano estafante.
Um calor abrasador capaz de vaporizar o único pingo de clareza mental que me restava.
Um cocktail hormonal pre-ciclo, a fazer de mim esponja de toda a de humidade que se aproximasse.
E eles queriam que eu bebesse 4 litros nessa noite!?!
Brincalhões!
Depois de dois litros e quase a vomitar, é que caí em mim.
Não sou eu que estou mal, bolas!
São eles!
Na altura, até fiz um esquema, num papel, com as horas das tomas, porque as instruções eram dificeis de descortinar.
Em julho, como ficou marcado para as 4 da tarde, eu teria que fazer 6 horas de jejum total antes da anestesia.
Telefonam-nos sempre a perguntar se temos dúvidas. Dúvidas eu não tinha. Mas acabou por vir à conversa: nada de beber água a partir das 10 da manhã.
Só que estavamos no pino do verão!
Qual é o sentido? Qual é a taxa de sucesso? Digam-me vocês?
Depois de remarcar sucessivamente, vai ser já amanhã.
Só porque...ainda não desisti, mas já estive para o fazer.
É que, agora, com tantas horas a tomar laxantes, tive mais do que tempo para ir reler as instruções e dei-me conta que lá diz:
"Dissolva o conteúdo da saqueta A com o conteúdo da saqueta B em 1L de água e beba em 45 minutos."
Note-se que nenhuma das saquetas contém chocolate, pipocas, batatas fritas, ou mesmo água que seja. Mas uma mistura indigna de existir.
E foi aqui que eu percebi uma série de coisas (a que vos vou poupar) e que me fizeram considerar suspender novamente o exame esta noite.
Passaram-me varias coisas pela mente em segundos. Algumas até colidiram e capotaram.
1) A conversa da Helena da primeira vez de desisti: "Ó pá, ias lá na mesma. Eu também não consegui fazer a preparação como eles mandaram e fui."
2) A mania que tenho de seguir as regras e de me tramar por causa disso.
3) A teoria da conspiração de ve-los a escreverem propositadamente regras mais estritas do que o necessário para garantirem que conseguem o material limpo de que precisam.
4) E a luta que eu estaria disposta a fazer para conseguir que a direção do hospital corrijisse as instruções e as re-escrevesse dirigida a seres humanos, terrestres e sérios cumpridores de regras em geral e de instruções de saude em particular.
Há momentos em que é claro para mim que a assertividade é contra a minha natureza.
Foi quando eu lhe disse: "Acho que vou escrever à direção do Hospital a dizer que lhes dou 50 euros se me provarem que é possível beber 1 litro desta coisa em 45 min."
Não sei se chore, se ria, mas ele (que me conhece bem) fez um esgar do tipo "lá está ela" e disse, enquanto continuava a teclar no telemóvel: - "Não faças isso."
E depois acrescentou: "Eu bebo!"
- "Tu bebes?" respondi incredula enquanto pensava com o meu botão descasado "francamente, o que este tipo está disposto a fazer para me proteger de mim própria. Caramba! Devo ser mesmo um caso perdido."
- "Mas não é possível. Isto é horrivel", insisti.
- "Eu bebo. Deixa cá provar", bebeu e não vacilou, "bebo isso em 15 minutos."
- "Em 15 minutos?", respondi, "dou-te 200 euros!"
A verdade é que...tivesse eu menos 15 anos e ia à luta.
Só que perdia...
Continuo a ter vontade de dar-me ao trabalho (sim, porque dá trabalho) e escrever a dizer que não é humano beber aquilo em 45 minutos.
Muito menos duas vezes na mesma noite.
Regado com outros 2 litros de água, chá, sumo sem polpa ou refrigerante sem gás.
Não é humano.
A esta hora da noite, e com as litradas que aqui já vão, pergunto-me se eles, os gastroenterologistas, têm de experienciar um exame destes durante a especialidade.
Será que têm noção do que estão a pedir?
Hum...duvido. Seria estranho, ser examinado por um colega de profissão. Estranhissimo.
Estou a falar a sério! Se fosse uma colega ainda vá. ...Hum...estranho. Muito estranho.
Bom, voltando à assertividade...escrever-vos acalmou-me, que é o que se recomenda nestas situações.
Se vocês não estivessem aí e eu tivesse menos 15 anos, a esta hora já estava a escrever para o Ministério da Saúde. E já teria falado com todos os médicos amigos da familia para saber até que ponto isto é aceitável, etc...
O que faz a ingenuidade, santo deus!
Nestas situações que nos revoltam e nos mexem com as entranhas, é suposto não agir. Senão sai m€rd@!
É comum quando se reage a quente ser-se sarcastico, precipitado, injusto, e até mesmo agredir fisicamente.
O que é desejável é que tomemos consciencia disso e que aproveitemos essa energia a nosso favor.
Essa energia é emoção. E-moção que nos faz disparar para a ação. O que é bom, mas pode ser mau.
Sugestões que se costumam dar nestes casos são:
- Escreva tudo mas não envie. Guarde para o dia seguinte. Nesse momento, já a emoção / energia terá tido tempo de se dissipar.
A emoção tolda a razão. E fica uma grande confusão. A razão será mais capaz de distinguir o que é razoável ou não.
Sem toda aquela emoção, já o caso tomou as devidas proporções. Isto é, não ficou amplificado pela emoção.
E, muito provavelmente, digo-vos eu, que o tal caso, nessa altura já foi ultrapassado por alguma coisa mais urgente da vossa vida.
E como não dá para tudo... Escolhamos as nossas guerras.
Momento de lucidez antes de terminar...Façamos a lista do que aprendi nisto das colonoscopias. Pode vir a ser-vos útil:
- Evitar a fase da retenção de liquidos (quiça agravada por medicação que estejam a fazer) e marcar o exame para a fase hormonal propicia: isto é, logo na segunda semana do ciclo, em que tudo em nós flui como devia.
- Com anestesia (claro!) e logo pela manhã. Nada de prolongar sofrimento (jejum total) desnecessário pela tarde afora.
- Fazer dieta preparatória sem stress...Eu preferi começar a dieta no fim-de-semana. Para mim, trabalhar e não poder comer é stressante e para esquecer.
- Para atingir a perfeição nada como o metodo da tentativa-erro: ouve o teu corpo, se ele te está a dizer que não é agora, é porque se calhar até tem razão.
Por tudo isto, só amanhã, depois de a emoção passar, é que estarei em condições de encontrar a resposta mais assertiva neste caso.
Se calhar 50 euros é pouco. Vou re-pensar.
Obrigada pela companhia.
Fez toda a diferença.
~o~~o~~o~